À medida que começa a soltar os limites que lhe foram concebidos,
você entra no desconhecido.
A mente “entra”, porque é ela que não consegue mais descrever
o novo ambiente em que se encontra.
Sem uma estrutura silenciosa, sem um ponto de atenção,
é comum tentar voltar ao estágio anterior, o conhecido.
O mundo é a mente.
Tudo o que conhecemos é ela.
Qualquer que seja o enredo,
seja mental ou emocional, acontece na mente.
Investigando mais a fundo, os sentimentos são descritos mentalmente.
A mente contém e cataloga todos os sentimentos,
além de aceitar uns como proprietária e tentar eliminar outros como indesejáveis.
Mesmo quando se sente muito feliz, isso é a mente.
Feliz é um estado de sentimento que ocorre na mente,
descrito, conhecido e valorizado pela mente.
Por isso, ao receber a proposta de que você seja não-mente,
de que você não seja a sua mente, ela não entende.
O segredo compartilhado em satsang é que você é silêncio.
Realizar a si mesmo seria tomar esse segredo à risca.
No silêncio não há ruído, não há problema.
Quando os problemas começam a aparecer
é porque está havendo uma sabotagem;
a mente nota que não é bom seguir rumo ao desconhecido,
porque, nele, ela some.
Então, em vez de assumir que você está optando pelo sumidouro dela,
a mente propõe que você está com náuseas, com dor de cabeça,
que o seu sistema orgânico está disfuncional…
Ou seja, ela sabota completamente o estado de ser tranquilo,
quando nota que não é mais a capitã.
Ela propõe o afastamento da verdade e a aproximação da manutenção
daquilo que nos foi apresentado como realidade.
A mente assume esse papel em detrimento à verdade
e o segredo fica inescrutável.
Todo esse movimento é intramental,
pautado na ideia de que você esteja fazendo mal a si.
Mas o silêncio não faz mal nem a você nem a ninguém.
A quem faz mal aproximar-se do desconhecido?
O medo é da mente.
Ela cria situações que geram efeitos
e fazem com que você se afaste do essencial.
Então, estando diante do desconhecido,
talvez haja durante um certo tempo uma diarreia.
Mas veja isso como um expurgo,
porque a verdade tende a corromper aquilo que é irreal,
e se você está muito identificado com o que não é real,
a presença da verdade gera uma aparente desestrutura.
Se olhássemos para um círculo extremamente clássico,
nesse momento, tal mente seria forçada
a permanecer em contato com o abismo.
Porque a verdade é simples,
e para ela não há nada que não seja absurdamente simples.
Recorra ao silêncio que você é, agora.
Não há nada para ser entendido.
A mente tenta estruturar, mas na presença da verdade
isso se torna impossível.
A verdade não é sistemática, não é racional,
portanto, se você entra com a sua cabeça,
tem a sensação de estar a “desaparafusar” tudo,
porque uma coisa não parece encaixar na outra.
Mas é isso mesmo. Não tem encaixe.
A verdade é completamente aberta, espontânea.
Não se trata de uma leitura ou um discurso embasado num sistema.
É espontaneamente que, em satsang, nos encontramos
e ficamos com a pergunta final: Quem somos nós?