Há uma crença de que se você se torna você mesmo, não pode conviver socialmente, se torna incapaz. Mas proponho uma analogia: você está dentro de um quarto escuro, cheio de móveis, com a luz apagada, e quer achar a privada para fazer suas necessidades. Fatalmente, você vai evacuar em algum outro lugar, não vai dar tempo de encontrá-la. Você vai acabar “cagando” atrás da cortina. Você não sabe onde está nada, você está tateando no escuro. E esse é o “estado natural” das pessoas.
No entanto, se você acende a luz de si mesmo, ilumina todo o ambiente, e sabe exatamente onde fazer a “caca”. Você vai saber onde está o botão da descarga – ou a cordinha, depende do estágio evolutivo do seu banheiro. E você verá dejetos de milênios irem embora.
Certa vez, estava indo de Porto Alegre a algum lugar no interior e, ao me despedir de uma tia, ela disse: “Mas meu filho, tu vais viajar de noite? Não é perigoso?”. Contestei: “Por que seria?”. E ela: “É tão escuro”. Ao que conclui: “Mas meu carro tem luz; quando a acendo, vejo tudo!”.
Ela sabia que havia faróis no carro, mas o medo não concebe a luz, tem medo da escuridão. Assim é: você vive tateando no escuro… Acenda a luz! Experimente! Digamos que a sua mente traga a tese de que, se você for para dentro, tudo vai ficar um caos. Mas pergunto: como está a sua vida agora? Está tudo em ordem? Você não bate o joelho o tempo todo nos pensamentos escuros que você tem? Você não está o tempo todo tropeçando na sua própria fantasia de escuridão?
A escuridão realmente é a ausência de luz; acenda a luz e não haverá mais escuridão. Quem é você? Uma vez acesa, a luz, você não tem mais como voltar à escuridão. Agora você vê. E ver, é claro, demanda uma certa reestruturação das relações, de como você funciona no mundo. Há quem você considerasse que era seu amigo, mas não é. Muitas coisas perderão o valor que tinham. Mas esse é o risco de acordar. Ouse ficar só.
Aquele que aprendeu a ser aquilo que os outros pensam que ele é não ousará ficar só, porque isso significa ousar ser aquilo que os outros não pensam que você é. E vou mais longe, mais para dentro: é ousar não se pensar.




